Luiz Madrid

PARTICIPANTE // EUA

Achei um depoimento feito por uma amiga, escritora e psicóloga escolar, que conheci num projeto de escrita para o Teatro em Framingham, MA (2019), que dizia: Luiz Madrid é um escritor peregrino. A paisagem escreve nele. Abismos, praias, quintais, trilhas que o poeta descobre, caminhando “ao longo dos trilhos que seguem a correnteza dos rios até alcançar o grande mar”, que “bate na área quando chega ao seu altar.” Oração, confissão e promessa... lembranças com o travo de frutas proibidas, doçura doida da saudade e agonia intraduzível do imigrante. Na minha jornada literária, os locais que encontro em minhas explorações, parecem evocar em mim, a minha história de origem, que é impregnada de “brasilidade” que ainda bate forte em minhas veias, e minha ligação com a Terra, com a Água e a conexão da Natureza externa com minha natureza interna. O som e sotaque das palavras nos mais diversos idiomas, outras culturas se traduzem com essa conexão. Contínuo descobrindo outras vozes através de novos estudos sobre ficção, não-ficção, poemas epistolários, memoirs, prosa e roteiros de cinema. Nos últimos anos, me deparei com a literatura infantil. Publiquei Grilherme, o Sonhador (2023), e senti que meus horizontes trouxeram à tona as velhas memorias infantis. O regaste dessas memorias é um caminho fascinante para qualquer escritor de forma geral. Como imigrante tenho descoberto que meu coração mora em mais de um lugar. É difícil entender as vezes, quem somos, como vivemos e o que acreditamos. Compartilho uma gatha de Thich Nhat Hanh , um grande mestre budista e defensor da Paz: “As palavras podem viajar milhares de quilômetros. Que minhas palavras criem compreensão e amor mútuos. Que elas sejam tão bonitas quanto pedras preciosas, tão lindas quanto flores.”